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domingo, 8 de março de 2015

Marte: O planeta que perdeu um oceano de água

Estas concepções artísticas mostram como Marte poderia ter sido há quatro bilhões de anos. O jovem planeta poderia ter tido água suficiente para cobrir toda a sua superfície com uma camada líquida cerca de 140 metros de profundidade, mas o mais provável é que o líquido tenha se juntado para formar um oceano que ocuparia quase metade do hemisfério norte de Marte, onde algumas zonas teriam atingido uma profundidade maior do que 1,6 quilômetros. Crédito: © ESO/M. Kornmesser
 Um oceano primitivo em Marte continha mais água do que o Oceano Ártico na Terra, e cobria uma maior porção da superfície do planeta do que a coberta pelo Oceano Atlântico, de acordo com novos resultados publicados.

 Uma equipe internacional de cientistas utilizou o Very Large Telescope do ESO, assim como instrumentos do Observatório W. M. Keck e do Infrared Telescope Facility da NASA, para monitorar a atmosfera do planeta e mapear as propriedades da água em diversas regiões da atmosfera de Marte durante um período de seis anos.


 Estes novos mapas são os primeiros do gênero. Os resultados foram publicados na revista online Science.

 Há cerca de quatro bilhões de anos, o jovem planeta Marte devia ter água suficiente para cobrir toda a sua superfície com uma camada líquida cerca de 140 metros de profundidade, mas o mais provável é que o líquido tenha se juntado para formar um oceano que ocuparia quase metade do hemisfério norte de Marte, onde algumas regiões teriam atingido uma profundidade mais de 1,6 quilômetros.

Crédito: © ESO/M. Kornmesser/N. Risinger (skysurvey.org)
 “Nosso estudo dá-nos uma estimativa robusta da quantidade de água que Marte teve no passado, através da determinação da quantidade de água que se perdeu no espaço”, disse Geronimo Villanueva, cientista que trabalha no Goddard Space Flight Center da NASA, e autor principal do novo artigo científico que descreve os resultados.

 “Este trabalho ajuda-nos a perceber melhor a história da água em Marte”. A nova estimativa baseia-se em observações detalhadas de duas formas ligeiramente diferentes de água na atmosfera marciana.

 Uma é a familiar forma da água, composta por dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio (H2O), e a outra é HDO, ou água semi-pesada, uma variação que ocorre naturalmente na qual um dos átomos de hidrogênio é substituído por um átomo de deutério.

 Uma vez que a forma deuterada é mais pesada que a água normal, perde-se menos no espaço devido à evaporação. Por isso, quanto maior for a perda de água do planeta, maior será o quociente HDO para H2O na água que resta.

Crédito: © ESO/M. Kornmesser

 Os pesquisadores distinguiram as assinaturas químicas dos dois tipos de água com o auxílio do Very Large Telescope, assim como com instrumentos do Observatório W. M. Keck e com o Infrared Telescope Facility.

 Ao comparar a razão de HDO para H2O, os cientistas podem medir quanto é que aumentou a fração de HDO e assim determinar quanta água é que escapou para o espaço, o que por sua vez permite estimar a quantidade de água que Marte tinha no passado.

 No estudo, a equipe mapeou a distribuição de H2O e HDO de forma repetida durante quase seis anos terrestres — o que corresponde a cerca de três anos em Marte — produzindo fotografias globais de cada uma, assim como o seu quociente. Os mapas revelam variações sazonais e microclimas, embora atualmente Marte seja essencialmente um deserto.

 Ulli Käufl do ESO, responsável por construir um dos instrumentos usados no estudo e coautor do novo artigo científico, acrescenta: “Estou novamente espantado com o poder das observações remotas noutros planetas, utilizando telescópios astronômicos: descobrimos um oceano antigo a mais de 100 milhões de quilômetros de distância!”.

Crédito: © ESO/M. Kornmesser

 A equipe estava especialmente interessada nas regiões próximas dos polos norte e sul, uma vez que as calotas polares são os maiores reservatórios de água conhecidos no planeta. Pensa-se que a água armazenada documente a evolução da água em Marte desde o Período Noachiano, que terminou há cerca de 3,7 bilhões de anos.

 Os novos resultados mostram que a água atmosférica nas regiões próximas dos polos encontra-se enriquecida de um fator sete relativamente à água oceânica na Terra, o que sugere que a água nas calotas polares permanentes de Marte esteja enriquecida de um fator oito.

 Marte deve ter perdido um volume de água 6,5 vezes maior do que as calotas polares atuais de modo a apresentar este alto nível de enriquecimento, o que significa que o volume do oceano primitivo de Marte deve ter sido de, pelo menos, 20 milhões de quilômetros cúbicos.

 Baseada na atual superfície de Marte, uma possível localização para esta água seriam as planícies do norte que, desde longa data, têm sido consideradas boas candidatas devido ao solo baixo que apresentam.

Esta concepção artística mostra como é que o planeta Marte perdeu a maior parte da sua água da superfície durante os últimos quatro bilhões de anos. A água que restou na superfície de Marte encontra-se atualmente congelada nas calotas polares. Crédito: © ESO/M. Kornmesser

 Um oceano primitivo nesse local teria coberto 19% da superfície do planeta — em termos de comparação o Oceano Atlântico cobre 17% da superfície da Terra.

 “Com Marte a perder tanta água, o planeta teria permanecido “molhado” durante um período de tempo maior do que se supunha anteriormente, sugerindo que o planeta poderia ter sido habitável durante mais tempo”, diz Michael Mumma, cientista em Goddard e segundo autor do artigo.

 É possível que Marte tenha tido anteriormente ainda mais água e que alguma tenha se depositado por baixo na superfície.

 Uma vez que os novos mapas revelam microclimas e variações temporais no conteúdo de água atmosférica, poderão igualmente ser úteis numa procura de água subterrânea. Nos oceanos da Terra existem cerca de 3.200 moléculas de H2O para uma molécula de HDO.

 Apesar de sondas em solo marciano e em órbita do planeta poderem mostrar muito mais detalhes em medições feitas diretamente no local, não são, no entanto, adequadas para monitorar as propriedades de toda a atmosfera marciana. Este estudo faz-se melhor com espectrógrafos infravermelhos montados em grandes telescópios na Terra.

‣ Fonte: ESO (European Southern Observatory)

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